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Marta F. Cardoso

Em colaboração com o fotógrafo Sal Nunkachov, Marta F. Cardoso é a mentora do Pprview, uma revista que aborda diversos temas culturais, da representação ao Design de Moda. À conversa com o StreetLights.pt, conta-nos um pouco sobre o seu trabalho, as suas ambições e os seus projetos futuros.

Streetlights.pt (SL): Os leitores do StreetLights.pt conhecem-  -te de várias fotografias que já publicamos e também do blogue Trend me too. Que melhor início para esta conversa do que começares por nos contar as características que definem a tua personalidade?


Marta F. Cardoso (MC): Acho que a nossa conversa não poderia ter melhor início. Em vez de vos falar das características da minha personalidade, caindo no erro de despejar uma lista de adjectivos sem sentido, prefiro falar-vos de como funciono interiormente. Costumo dizer que sou o bicho que melhor conheço, no sentido de que me sinto perfeitamente confortável com aquilo que sou e sei exactamente como vou reagir face a dada situação ou momento. No entanto, quando surgem problemas ou inquietações na minha vida, tudo isso é colocado em causa, chegando ao ponto de eu própria não saber como reagir e precisar de tempo e espaço. Leia-se aqui precisar do meu tempo e do meu espaço. Sou um ser-humano de fases, de momentos. Tanto posso estar um mês a ser constante e produtiva, como posso estar durante uma semana a matutar acerca de tudo e nada. Preciso destas pequenas pausas para meter a cabeça em ordem, caso contrário não existiram os tais meses em que trabalho incansavelmente e produzo montes de coisas que julgo serem engraçadas e aprazíveis.



SL: O teu percurso inclui uma passagem pela blogosfera com o Trend me too, que entretanto encerraste, mantendo apenas a página de Facebook do blogue ativa. A que se deveu esta mudança?


MC: Esta mudança foi absol
utamente necessária. Iniciei o Trend me too em 2011 com o objectivo de que o mesmo funcionasse como um portfolio dos artigos que vou fazendo. Quando o iniciei, não tinha a menor ideia de como funcionava o mundo dos blogues de moda e, até ganhar essa noção, não me importei que o Trend me too fosse considerado como tal. Contudo, quando comecei a entender como funcionava essa indústria, recusei-me a continuar dentro de algo com o qual não me identifico. Também eu caí em situações que hoje em dia considero lamentáveis, numa tentativa de trazer mais leitores interessados a aprender acerca de moda, como foi o caso dos giveaways. Isso não resulta, pura e simplesmente atraímos público interessado em ganhar prémios e não em aculturar-se, tendo sido a cultura sempre a mira pela qual o Trend me too espreitou. Ainda tentei dinamizar o blogue através de colaborações com pessoas envolvidas noutras áreas, como foi o caso da Joana Costa. Apesar disso, não obtive o feedback ao qual me tinha proposto e o projecto não estava a resultar da maneira que eu pretendia, além do facto de eu, devido a todo o trabalho extra-blogue, não ter tempo suficiente para despender ao Trend me too. Assim sendo, decidi encerrar a plataforma blogger e apostar apenas na página de Facebook. Penso que é uma forma muito mais prática de partilhar aquilo que gosto, penso e sinto. Não perdi nada, antes pelo contrário. Tenho obtido o feedback que pretendo e sinto-me muito mais livre. Estou feliz com a decisão.



SL: Juntamente com o fotógrafo Sal Nunkachov, iniciaste uma parceria e estás agora a colaborar com o Jornal de Leiria e, mais recentemente, a preparar o lançamento da Pprview. De onde partiu a motivação para a criação da revista? Em que consiste o conceito?


MC: 
A motivação partiu do Sal Nunkachov. Foi ele quem me convidou para iniciarmos este projecto que, essencialmente, é uma revista de publicação independente que aborda diferentes áreas, não excluindo, logicamente, o design de moda. Este é o meu primeiro trabalho enquanto editora, por isso imagine-se a responsabilidade. O objectivo do Pprview é resgatar antigas formas de impressão, nomeadamente a serigrafia e a impressão em tipos móveis, focando-se em trabalhos congéneres. Daí que a colaboração com outros profissionais de diversas áreas seja muito importante. Esta foi, até agora, a minha maior aposta no que diz respeito ao desenvolvimento de novos projectos. O lançamento espera-se para breve.



SL: Através do Pprview tens entrevistado vários designers de moda, entre os quais se contam a Lara Torres ou a Mónica Gonçalves Águas. Entre outros que ainda não podem ser revelados. É uma grande responsabilidade?



MC: Sim, é. É uma responsabilidade mesmo muito grande. Aliás, de tudo aquilo que já fiz até aos dias de hoje, as entrevistas a designers ou os artigos de opinião acerca dos mesmos, são provavelmente os trabalhos onde deposito mais de mim e sobre os quais sinto um maior factor de responsabilidade. Sinto-me sempre nervosa quando faço esse tipo de trabalhos pois estou a “invadir” a vida pessoal e profissional dos designers e isso são duas coisas pelas quais tenho o maior respeito. Dedico-me muito às minhas entrevistas e faço-as como se fossem comida, no sentido que nunca serviria nada a ninguém que não servisse a mim.

SL: O que mais te surpreendeu nas suas respostas?


MC: Aquilo que mais me surpreende não são tanto as respostas, mas sim a disponibilidade, emoção, dedicação e carinho com que respondem. Não houve, até aos dias de hoje, um único designer que não fosse absolutamente apaixonado por aquilo que faz. Isso não é surpreendente, mas sim inspirador.



SL: Nas tuas entrevistas percebe-se já um cunho pessoal. Apostas no cruzamento da vertente profissional com a idiossincrasia do designer, algo que geralmente não é mister, pois existe a ideia generalista de que o designer é uma máquina digna de um poema de Álvaro de Campos. Consideras que pesquisar sobre a vida dos teus entrevistados e captar os seus pontos de vista sobre diversos assuntos, humaniza o teu trabalho? 


MC: Obrigada por esta pergunta. A resposta é um sim gigante. Mais do que essencial, todo o trabalho de pesquisa é necessário. Uma boa entrevista vê-se não só pela dedicação do jornalista à vida do entrevistado, mas também pelo respeito que o jornalista em pela mesma. E aqui quando falo de vida falo tanto da pessoal, bem como da profissional, pois ambas existem em constante influência. Algo que se vê muito, nos dias que correm, são entrevistas ou artigos sem aquele cunho pessoal ou estritamente focadas na vida profissional do entrevistado, esquecendo o facto de que, provavelmente, aquilo que mais nos influencia, seja no que for, mas, neste caso, na criatividade, é o nosso percurso, a nossa viagem terrena, as nossas vivências e emoções. É preciso sentir mais, viver mais, ser mais. Mas, acima de tudo, é preciso saber exteriorizar isso sem medos.



SL: Fora da área do Design, que outros profissionais tens entrevistado? Qual te suscitou maior curiosidade?


MC: Estou agora a preparar entrevistas a actores, fotógrafos e modelos. Sou curiosa por natureza. Por isso, todos eles me suscitam curiosidade. Contudo, por ser uma área totalmente nova para mim, estou mais entusiasmada com o facto de ir começar a entrevistar pessoas relacionadas com a área do cinema e representação.



SL: A par com todos estes projetos, colaboras com a Justimpress. Fala-nos um pouco sobre o trabalho que desenvolves nesta agência.


MC: O trabalho com a Justimpress começou por ser um projecto relacionado com o Trend me too quando ainda existia em formato blogue. Convidaram-me para participar num projecto intitulado “5 dias, 5 bloggers”, no qual a minha função seria escrever um artigo semanal para a página da agência. Hoje em dia, continuo a trabalhar nesse projecto mas de uma forma mais pertinente. Devido a todo o trabalho desenvolvido, eu e a Patrícia Rebelo fomos convidadas para fazer parte da equipa da agência enquanto embaixadoras. Assim sendo, escrevo o tal artigo semanal e colaboro mais activamente dentro da área da comunicação e no desenvolvimento deste projecto. Neste momento, queremos alargar fronteiras e troná-lo num projecto a nível internacional.



SL: O teu envolvimento com a moda, quer como modelo quer como jornalista é recente. O jornalismo de moda sempre esteve nos teus objetivos?


MD: Não, de todo. Foi algo que foi crescendo em mim. Aliás, ainda está em crescimento e desenvolvimento. Espero que assim continue pois só em constante mutação é que as coisas valem a pena para mim, pois geram-me desafio. Nunca desejei ou sonhei desde miúda em ser modelo ou jornalista de moda. Gradualmente, o interesse despertou em mim e acabou por ficar. Em relação somente à área do jornalismo, foi algo que sempre gostei, principalmente de redacção. Quando era mais nova, sabia que queria escrever e editar textos, só não sabia que iria acabar por me especificar nesta área.



SL: Para o futuro, que outros projetos tens definidos?


MD: Nada na minha vida é definido. Há sempre uma abertura.

 

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