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Mónica Gonçalves

No âmbito do lançamento da sua coleção En.Fold.er, Mónica Gonçalves Águas fala-nos um pouco sobre os seus projetos. Atualmente a colaborar com a marca Ana Salazar e em vias de inaugurar o seu próprio ateliê na capital, esta é a sua segunda entrevista ao Streetlights.pt. A primeira esteve relacionada com a conquista do Eco-Friendly com o desenvolvimento de malha de cortiça, em parceria com o designer Rúben Damásio. Este tema também não ficou de fora desta nova conversa.

StreetLights.pt (SL): Comecemos por falar um pouco sobre ti. O que te inspira?


Mónica Gonçalves (MG): Inspiro-me com muita facilidade, ao ponto de acordar a pensar num sonho e passar o dia todo influenciada por coisas criadas pelo meu subconsciente. Sou facilmente conquistada por memórias visuais, pensadas ou criadas pela minha própria mente, fruto de uma pesquisa diária. Tenho particular interesse por trabalho de laboratório, ou seja, tudo que tem a ver com a parte experimental.


SL: O que te aproximou da área de Moda? Sempre esteve nos teus objetivos ou tinhas/ tens outros percursos traçados?


MG: O meu objetivo sempre foi este, pois desde de muito pequena vivi no meio da costura, passava dias inteiros a ver a minha mãe a trabalhar na mesa da sala. Ficava super entusiasmada quando andava na Baixa de loja em loja com a minha mãe a comprar tecidos e aviamentos.



SL: És uma exímia pesquisadora e investigadora e estás constantemente mergulhada na inquietude da procura de novas ideias e conceitos inovadores. O trabalho é o teu maior alimento?



MG: O meu trabalho é tudo: hobbie, diversão, prioridade… Adoro pesquisar, e experimentar. Por exemplo: ontem eram três da manhã e fui para a cozinha fazer experiencias com gelatina e tecido e hoje mal acordei fui ao frigorifico ver qual tinha sido o resultado.  Não me imagino a ter uma vida de outra forma.



SL: Quais são as tuas maiores referências na indústria da moda nacional e internacional? Fora desta área, existe alguma outra personalidade que te instigue e influencie a nível criativo?
 

MG: Na indústria nacional é a designer Lara Torres, que, para meu privilégio, foi minha professora e tutora de projeto final de curso. A nível internacional Lucy & Bart, Issey Miyake e Alexander McQueen. Fora desta área tenho várias influências, mas posso falar particularmente do James Nares que me tem estado a inspirar imenso no projeto que estou a desenvolver para a minha próxima coleção a nível de prints e formas. Adoro a conceptualidade das suas pinturas e a técnica que o mesmo desenvolveu que consiste em pintar suspenso de forma a que os movimentos sejam mais livres. Não posso também deixar de falar de  Theo Jansen que trabalha  escultura cinética e tem uma capacidade genial, e faz coisas que para mim seriam utópicas.



SL: Venceste o europeu do concurso Skils em 2010, um concurso destinado a jovens profissionais de áreas diversas. Certamente foi uma experiência enriquecedora. Que conhecimentos trouxeste na bagagem?



MG: Para mim o Euroskills deu-me uma experiência e um enorme sentido de responsabilidade e  organização, pois foram 3 meses de treino intensivo mais os 3 dias de prova/competição que exigiram muita metodologia. Foi sem dúvida muito enriquecedor pessoal e profissionalmente, pois ser eleita por um júri constituído por profissionais da moda de vários países é muito gratificante e estimulante. Adquiri vários conhecimentos de técnicas de confeção e modulação de outros países que nada têm a ver com as nossas, o que me dá outros horizontes de trabalho.

SL: Depois de venceres, junto com o Rúben Damásio, o concurso Eco-Friendly, da ANJE, com uma peça em malha de cortiça, falaste-nos na ideia de começar a comercializar uma série de produtos neste material com marca própria. Em que estado se encontra este projeto?


MG: Neste momento estamos com a nossa “malha de cortiça” a ser testada em laboratório, pois vamos estar a apresentar a nossa primeira coleção no Lisbon Week pela marca Cork and Company. A nossa intenção é industrializar a malha de forma a podermos exportar, pois o nosso público alvo é o mercado externo, que valoriza muito a cortiça e cada vez procura mais produtos da mesma.

SL: Sobre a coleção En.Fold.er, projeto no qual desenvolveste uma série de coordenados que encaixam uns nos outros, impregnados de um claro pragmatismo a serviço do utilizador numa situação de catástrofe. Como surgiu o conceito?



MG: O conceito surgiu do facto de estarmos em plena crise económica. Achei que fazia todo o sentido criar uma coleção que tivesse uma fator utilitário (físico e conceptual) muito forte tornando-se quase como uma intervenção social. Ecologia, a Sustentabilidade e a valorização dos materiais locais são os meus conceitos-chave. A minha intenção não é um conceito moda mas sim de lifestyle através de peças que têm mais que uma função e que se tornam o nosso habitat.



SL: Sabemos que valorizas muito a Sustentabilidade e a Ecologia. De que forma os expressas tais conceitos neste trabalho?


MG: Sustentabilidade está presente no facto das peças terem mais que uma função, como é o caso do casaco que serve de mala de transporte da tenda ou do caso de um saco de cama “vestível”. São todas elas peças 100% naturais: lã e algodão orgânico. Os exteriores são todos em Burel que tem uma grande capacidade térmica e de impermeabilidade o que se adequa otimamente ao tema.



SL: Um dos fatores chave da coleção é o uso de um material tradicional e com uma grande carga história: o burel. Como surgiu a ideia da sua utilização? Que desafios te gerou durante a realização das peças?


MG: A ideia surgiu do facto de eu querer trabalhar um tecido que fosse possível de criar manualmente a partir da técnica da feltragem, para que numa situação mais catastrófica fosse possível criar todo o processo de um novo lifestyle, e durante a minha pesquisa apercebi-me que o Burel antigamente era feito com essa mesma técnica (...). O
s desafios foram vários e bastante motivantes. Comprei lã de ovelha acaba de ser tosquiada e passei por todo o processo de lavagem manual como se fazia antigamente. Depois penteei a lã e procedi à técnica da feltragem para provar que  seria realmente possível fazer todo o tecido à mão. Depois tive toda a outra parte de estudo relacionada com a funcionalidade das peças, como o caso da tenda, para conseguir que a mesma se montasse em 2 segundos no ar tive que desmontar uma tenda da Quechua para perceber como funcionava [a estrutura] e como iria aplicar a mesma técnica na minha tenda, que iria surgir de dentro de um sobretudo.



SL: Atualmente estás a colaborar com a marca Ana Salazar, um trabalho que passa por recuperar uma empresa que permanece com algumas dificuldades. Como chegaste até aqui? Quais os maiores desafios que encontraste?


MG: Neste momento estou à espera que as coisas estabilizem para poder retomar a nova coleção. Surgiu o convite de trabalho quando fui estagiar para a marca Ana Salazar. Tive a oportunidade de colaborar diretamente no desenvolvimento da coleção e penso que tenha tido um bom feedback. Os maiores desafios foram perceber que a marca tem uma linha e uma linguagem que tem que ser mantida e procurar integrar a minha identidade em todo o trabalho que desenvolvi.



SL: Brevemente, Lisboa acolherá o teu primeiro ateliê. Para quando está prevista a abertura?


MG: Estou a trabalhar para que seja em finais de Outubro inícios de Novembro. Quando tudo estiver certo terei todo o gosto em anunciar a inauguração.

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